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CONTABILIDADE RUMO Á PÓS-MODERNIDADE: UM FUTURO SUSTENTÁVEL, RESPONSÁVEL E TRANSPARENTE |
AUTORIA: Maria Elisabeth Pereira Kraemer |
Contadora,
CRC/SC nº 11.170, Professora e Integrante da equipe de Ensino e Avaliação
na Pró-Reitoria de Ensino da UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí.
Mestre em Relações Econômicas Sociais e Internacionais pela
Universidade do Minho-Portugal. Doutoranda em Ciências Empresariais
pela Universidade do Museu Social da Argentina. Integrante da Corrente
Científica Brasileira do Neopatrimonialismo e da ACIN – Associação
Científica Internacional Neopatrimonialista.
ENDEREÇO:
Avenida
Joca Brandão nº 111, Edifício Dona Emília, apto 902 - Centro. CEP
88.301-300 - ITAJAÍ – SC –
E-mail:
beth.kraemer@terra.com.br
TELEFONE/FAX:
(0XX) 47-3446558
A
CONTABILIDADE RUMO Á PÓS-MODERNIDADE: UM FUTURO SUSTENTÁVEL, RESPONSÁVEL
E TRANSPARENTE
O paradigma atual de desenvolvimento, baseado nos modelos dos países desenvolvidos, dos países industrializados do Norte, conforme Campanhola (1995), é um modelo meramente capitalista, que visa ao lucro máximo. Portanto, o crescimento econômico em si gera bem-estar à sociedade, e o meio ambiente é apenas um bem privado, no que se refere à produção e descarte dos seus resíduos.
Dentro desse processo, ao longo dos últimos 30 anos, pode-se afirmar que os recursos naturais são tratados apenas como matéria-prima para o processo produtivo, principalmente no processo produtivo industrial. O que aconteceu é que este modelo, da maneira como foi idealizado, não é sustentável ao longo do tempo. Ficou claro que os recursos naturais eram esgotáveis e, portanto finitos, se mal utilizados.
Ao longo do tempo, outros valores passaram a fazer parte do objetivo da empresa. É claro que a maximização do acionista ainda é um dos objetivos, mas dificilmente será plenamente autêntica se outros objetivos não forem cumpridos. Entre esses outros objetivos estão as chamadas responsabilidades sociais, que cada vez mais vão tomando conta do dia-a-dia da administração e dizem respeito à melhor qualidade de vida da comunidade.
Os administradores passaram a preocupar-se não somente com a gestão do negócio, mas com as pessoas e o meio em que interagem. Neste sentido, a Contabilidade, vista como um sistema de informação da situação e da evolução patrimonial, econômica e financeira da empresa, deve incluir, em seus relatórios, todos os dados relacionados ao meio ambiente, facilitando o acesso a mais esta informação ao seu grande número de usuários, auxiliando-os no processo de tomada de decisão.
Portanto, a Contabilidade, entendida como meio de fornecer informações, deveria buscar responder a este novo desafio, atendendo aos usuários interessados na atuação das empresas sobre o meio ambiente, subsidiando o processo de tomada de decisão, além das obrigações com a sociedade no que tange à responsabilidade social e à questão ambiental. Verifica-se, portanto, que por meio da identificação, mensuração e divulgação das referidas informações, a Contabilidade pode contribuir muito com a sociedade e com o governo, buscando soluções para os problemas sociais, pois sendo meio de fornecer informações, deve buscar responder a este novo desafio, satisfazendo os usuários interessados na atuação das empresas sobre o meio ambiente, devendo, ainda, contribuir para o sistema de gestão ambiental.
O contador deve participar de forma ativa neste processo de
planejamento, avaliação e controle das questões sociais e ambientais,
registrando e divulgando as medidas adotadas e os resultados alcançados.
1
- INTRODUÇÃO
Estamos
diante de um novo modelo estratégico, um modelo que tende a se
fortificar nas próximas décadas. Nesse novo ambiente, os interesses
dos acionistas dividem espaços com as demandas da comunidade e dos
clientes, funcionários e fornecedores. É para esse grupo, os chamados stakeholders,
que a empresa do futuro terá de gerar valor.
Hoje,
há uma enorme pressão pela qualidade nas relações. Atingi-la ou não
será um fator determinante para o sucesso nos negócios. Essa pressão
é devida, em parte, ao poder que as corporações conquistaram nas últimas
décadas. São as empresas, sobretudo as ligadas à iniciativa privada,
que geram empregos e conhecimentos, dominam técnicas de gestão, dispõem
de capital e concentram um número extraordinário de talento e de
pessoas inovadoras que fazem as coisas acontecerem.
O
mundo corporativo tem, portanto, um papel fundamental na garantia de
preservação do meio ambiente e na definição da qualidade de vida das
comunidades de seus funcionários. Empresas socialmente responsáveis
geram, sim, valor para quem está próximo. E, acima de tudo, conquistam
resultados melhores para si próprias. A responsabilidade social deixou
de ser uma opção para as empresas. É uma questão de visão, de
estratégia e, muitas vezes, de sobrevivência.
Os
assuntos ambientais estão crescendo em importância para a comunidade
de negócios em termos de responsabilidade social, do consumidor,
desenvolvimento de produtos, passivos legais e considerações contábeis.
A inclusão da proteção do ambiente entre os objetivos da administração
amplia substancialmente todo o conceito de administração Os
administradores cada vez mais têm que lidar com situações em que
parte do patrimônio das empresas é simplesmente ceifada pelos
processos que envolvem o ressarcimento de danos causados ao meio
ambiente, independentemente desses danos poderem ser remediados ou não.
Nesse
cenário, é cada vez mais árdua a tarefa do administrador no
tratamento desses assuntos na Contabilidade e sua divulgação. A
complexidade da atividade de certas empresas muitas vezes é fator que
dificulta o tratamento a ser dado no registro e na divulgação de,
principalmente, os chamados passivos ambientais. Este assunto envolve
julgamento e conhecimento específico, daí a necessidade de envolver não
somente a alta administração e a classe contábil, mas também
engenheiros, advogados, juristas, etc.
Portanto,
a participação da Contabilidade é de extrema importância, pois vai
despertar o interesse para as questões ambientais, ajudando a classe
empresarial a implementar, em sua gestão empresarial, a variável
ambiental, não apenas para constar na legislação, mas por uma
verdadeira conscientização ecológica.
Neste
sentido, não podemos ficar para trás, não podemos perder mais esta
oportunidade de nos inserirmos no seio da sociedade, assumindo uma nova
postura como cidadão e como profissional perante a sociedade. Porém,
estão aí o desafio para nós, contadores: fazer uma Contabilidade
adequada ao um modelo ambiental, integrada e competitiva, que compreenda
movimentos econômicos, movimentos operativos e movimentos ambientais.
2
- RESPONSABILIDADE SOCIAL
As empresas de hoje são agentes transformadores que exercem uma influência muito grande sobre os recursos humanos, a sociedade e o meio ambiente, possuindo também recursos financeiros, tecnológicos e econômicos. Diante disto, procuram colaborar de alguma forma para o fortalecimento destas áreas, com posturas éticas, transparência, justiça social. Os empresários, neste novo papel, tornam-se cada vez mais aptos a compreender e participar das mudanças estruturais na relação de forças nas áreas ambiental, econômica e social.
As
companhias estão sendo incentivadas agora e cada vez mais pela
administração pública e pelos seus stakeholder a focalizar
seus impactos ambientais e sociais, desenvolver maneiras apropriadas a
internalizar e reduzir seus custos associados, e a construção de relatório
para uma sustentabilidade ambiental maior.
Nos
últimos anos, houve progressos surpreendentes na área de gerenciamento
e relatório ambiental e, mais recentemente, o mesmo ocorreu quanto à
conscientização sobre a responsabilidade social e a crescente
compreensão dos desafios da sustentabilidade.
Todas
as empresas gostariam de ser admiradas pela sociedade, por seus funcionários,
pelos parceiros de negócios e pelos investidores. O grande problema é
estar disposto a encarar os desafios que se colocam no caminho de uma
companhia realmente cidadã. O primeiro deles, segundo Vassallo (2000),
é o desafio operacional. Uma empresa responsável pensa nas conseqüências
que cada uma de suas ações pode causar ao meio ambiente, a seus
empregados, à comunidade, ao consumidor, aos fornecedores e a seus
acionistas. De nada adianta investir milhões em um projeto comunitário
e poluir os rios próximos de suas fábricas. Ou dar benefícios e
oportunidades a seus funcionários e não ser transparente com seus
consumidores. Ou ainda preservar florestas no Brasil e comprar
componentes de um fabricante chinês que explora mão-de-obra infantil.
Neste sentido, o Parecer de Iniciativa sobre a Responsabilidade Social (2003) diz que a responsabilidade social é a integração voluntária pelas empresas das preocupações sociais e ambientais nas suas atividades comerciais e nas suas relações com todas as partes. É complementar das soluções legislativas e contratuais a que as empresas estão ou podem vir a estar obrigadas e que se aplicam a questões como, por exemplo, o desenvolvimento da qualidade de emprego, a adequada informação, consulta e participação dos trabalhadores, bem como o respeito e promoção dos direitos sociais e ambientais e a qualidade dos produtos e serviços.
Trata-se, segundo o Parecer de Iniciativa sobre a Responsabilidade Social (2003), de uma noção compreensiva e abrangente, que se situa mais no âmbito das boas práticas e da ética empresarial e da moral social, do que no dos normativos jurídicos. Abrange aspectos tão diversos como os que vão da gestão de recursos humanos e da cultura de empresa até a escolha dos parceiros comerciais e das tecnologias. Implica, pois, uma abordagem integrada das dimensões financeira, tecnológica, comercial, deontológica e social da empresa, tanto mais quanto ela é, na sua essência, uma comunidade de pessoas ao serviço do bem comum.
O
Livro Verde (2001) diz que a responsabilidade social das empresas é,
essencialmente, um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa
base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um
ambiente mais limpo.
A
empresa é socialmente responsável quando vai além da obrigação de
respeitar as leis, pagar impostos e observar as condições adequadas de
segurança e saúde para os trabalhadores, e faz isso por acreditar que
assim será uma empresa melhor e estará contribuindo para a construção
de uma sociedade mais justa.
Tornou-se
evidente em 1919, de acordo com Toldo (2002), a questão da
responsabilidade corporativa com o julgamento na Justiça americana do
caso de Henry Ford, presidente acionista majoritário da Ford Motor
Company, e seu grupo de acionistas liderados por John e Horace Dodge,
que contestavam a idéia de Ford. Em 1916, argumentando a realização
de objetos sociais, Ford decidiu não distribuir parte dos dividendos
aos acionistas e investiu na capacidade de produção, no aumento de salários
e em fundo de reserva para diminuição esperada de receitas devido à
redução dos preços dos carros. É lógico que a Suprema Corte decidiu
a favor de Dodge, entendendo que as corporações existem para o benefício
de seus acionistas e que os diretores precisam garantir o lucro, não
podendo usá-lo para outros fins.
A
idéia de que a empresa deveria responder apenas aos seus acionistas
começou a receber críticas durante a Segunda Guerra Mundial. Nesta época,
diversas modificações aconteceram nos Estados Unidos.
Em
1953, outro fato trouxe a público a discussão sobre a inserção da
empresa na sociedade e suas responsabilidades: o caso A P. Smith
Manufacturing Company versus seus acionistas, que contestavam a doação
de recursos financeiros à Universidade de Princeton. Nesse período, a
Justiça estabeleceu a lei da filantropia corporativa, determinando que
uma corporação poderia promover o desenvolvimento social.
Segundo
Toldo (2002), nos anos 60, autores europeus se destacavam, discutindo
problemas sociais e suas possíveis soluções, e nos Estados Unidos as
empresas já se preocupavam com a questão ambiental e em divulgar suas
atividades no campo social.
Já
na década de 70, começou a preocupação com o como e quando a empresa
deveria responder por suas obrigações sociais. Nessa época, a
demonstração para a sociedade das ações empresariais tornou-se
extremamente importante.
De
acordo com Tinoco (2001), a França foi o primeiro país do mundo a ter
uma lei que obriga as empresas que tenham mais de 300 funcionários a
elaborar e publicar o Balanço Social. Seu objetivo principal prende-se
a informar ao pessoal o clima social na empresa, a evolução do
efetivo; em suma, estabelecer as performances da empresa no domínio
social. Este balanço, segundo o autor, é bastante paternalista, pois
exclui os fatos econômicos dos fatos sociais.
Na
década de 90, com uma maior participação de autores na questão da
responsabilidade social entrou em cena a discussão sobre os temas ética
e moral nas empresas, o que contribui de modo significativo para a
conceituação de responsabilidade social.
4
- RESPONSABILIDADE SOCIAL NO BRASIL
Em
1960, conforme Tinoco (2001), foi constituída a Associação dos
Dirigentes Cristãos de Empresas (ADCE), com sede em São Paulo,
iniciando assim uma pregação sobre responsabilidade social nos
dirigentes das empresas. Em 1977, ADCE organizou o 2º Encontro Nacional
de Dirigentes de Empresas, tendo como tema central o Balanço Social da
Empresa. Em 79, a ADCE passa a organizar seus congressos anuais e o
Balanço Social tem sido objeto de reflexão.
Foi
elaborado em 1984 o primeiro trabalho acadêmico do professor João
Eduardo Prudêncio Tinoco, que é uma dissertação de mestrado do
Departamento de Contabilidade e Atuaria da Faculdade de Economia,
Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo - FEA-USP
com o título de: Balanço Social: uma abordagem socioeconômica da
Contabilidade.
Em
1991, foi encaminhado ao Congresso um anteprojeto propondo publicação
do Balanço Social pelas empresas, porém, não foi aprovado. Foi
publicado pelo Banespa, em 1992, um relatório divulgando as suas ações
sociais. Em 1993, o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, lançou a
Campanha Nacional da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e
pela Vida, com o apoio do Pensamento Nacional das Bases Empresariais
(PNBE), que constitui o marco da aproximação dos empresários com as ações
sociais. Em 1997, Betinho lançou um modelo de balanço social e, em
parceria com a Gazeta Mercantil, criou o selo do Balanço Social
estimulando as empresas a divulgarem seus resultados na participação
social.
Foi criado, em 1998, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social pelo empresário Oded Grajew. O Instituo serve de ponte entre os empresários e as causas sociais. Seu objetivo é disseminar a prática da responsabilidade social empresarial por meio de publicações, experiências, programas e eventos para os interessados na temática. Em 1999, a adesão ao movimento social se refletiu na publicação do seu balanço no Brasil por 68 empresas. No mesmo ano, foi fundado o Instituto Coca-Cola no Brasil, voltado à educação, a exemplo da fundação existente nos Estados Unidos desde 1984.
Segundo Toldo (2002), a Câmara Municipal de São Paulo premiou em 1999, com o selo Empresa Cidadã as empresas que praticaram a responsabilidade social e publicaram o Balanço Social e a Associação de Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil (ADVB) incluiu em sua premiação o prêmio Top Social. A Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança destacou-se pelo trabalho de erradiação do trabalho infantil, exemplo que atraiu um número crescente de adeptos. A empresa que combate o abuso contra criança ganhou o selo Empresa Amiga da Criança.
O primeiro dado relevante a se destacar na comparação entre 2000 e 1999 é que a média de gastos por empregado cresceu em praticamente todos os indicadores sociais internos, ou seja, o valor gasto com empregados em alimentação, previdência privada, saúde, segurança e medicina no trabalho, educação, cultura, participação nos lucros e capacitação e desenvolvimento profissional foi 80,1% maior em 2000. A média do gasto em previdência privada foi 2,3 vezes maior e a participação nos lucros quase dobrou. A única exceção foi em creche, com redução de 8%. Este crescimento, porém, não quer dizer que o investimento social destas empresas esteja compatível com o que delas se espera. Em todo caso, é um dado positivo.
Dessa forma, Torres (2002) diz que para conquistar um diferencial e obter a credibilidade e aceitação da sociedade e das diversas partes interessadas dentro do universo empresarial, além de novas práticas e da publicação anual dos balanços e relatórios sociais e ambientais, as corporações têm buscado certificações, selos e standards internacionais na área social. Entre os exemplos brasileiros mais significativos, estão o 'Selo Empresa Amiga da Criança', conferido pela Fundação Abrinq; o 'Selo Empresa-Cidadã', que é uma premiação da Câmara Municipal da Cidade de São Paulo; e o 'Selo Balanço Social Ibase/Betinho', do Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas desde 1998.
Neste
sentido, A
Corporate Social Responsability, apud Vassallo (2000), diz que não
existe uma fórmula geral de responsabilidade social quando se trata de
negócios. Mas alguns passos básicos podem ajudar muito na implantação
de uma estratégia de boa cidadania corporativa. A seguir, alguns deles:
-
Desenvolva uma missão, uma visão e um conjunto de valores a
serem seguidos.
-
Para que a responsabilidade social seja uma parte integrante de
cada processo decisório, é preciso que ela faça parte do DNA da
companhia – seu quadro de missões, visões e valores. Isso leva a
um comprometimento explícito das lideranças e dos funcionários com
questões como ética nos negócios e respeito a acionistas, clientes,
fornecedores, comunidades e meio ambiente.
-
Coloque seus valores em prática
– é básico. De nada adianta ter um maravilhoso quadro de valores na
parede do escritório se eles não são exercitados e praticados a cada
decisão tomada.
-
Promova a gestão executiva responsável – esse é um exercício
diário e permanente. É preciso fazer com que cada executivo leve em
consideração os interesses dos seus partícipes antes de tomar
qualquer decisão estratégica.
-
Comunique, eduque e treine – as pessoas só conseguirão
colocar valores de cidadania corporativa em prática se os conhecerem e
souberem como aplicá-los no dia-a-dia.
-
Publique balanços sociais e ambientais – elaborados por
especialistas e auditores externos, eles garantem uma visão crítica de
como acionistas, funcionários, organizações comunitárias e
ambientalistas enxergam a atuação da empresa.
- Use sua influência de forma positiva – o mundo corporativo é formado por uma grande rede de relacionamentos. Use os valores cidadãos de sua empresa para influenciar a atuação de fornecedores, clientes e companhias do mesmo setor.
5 - A RESPONSABILIDADE SOCIAL NO ÂMBITO INTERNACIONAL
Destacam-se, no âmbito internacional, as normas BS 8800 e OHSAS 18001, que tratam de segurança e saúde no ambiente de trabalho. Além dessas, existem as normas AA 1000 e Social Accountability 8000 (SA 8000), com foco na responsabilidade social corporativa. Mesmo ainda pouco conhecida no Brasil, a norma SA 8000 merece uma atenção especial, entre outros motivos, pelo fato de que a obtenção e manutenção desse certificado prevê o envolvimento dos trabalhadores da empresa, bem como a participação de ONGs e sindicatos.
Fundamentalmente,
a Social Accountability 8000 visa aprimorar o bem-estar e as condições
de trabalho no ambiente corporativo, a partir do desenvolvimento de um
sistema de verificação que deve garantir o cumprimento das exigências
contidas na norma e a contínua conformidade com os padrões
estabelecidos. Seus requisitos estão baseados nas declarações
internacionais de direitos humanos, na defesa dos direitos da criança e
nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Para
isso, a SA 8000 apresenta-se como um sistema de auditoria similar à
certificação ISO 9000, que atualmente já é apresentada por mais de
300 mil empresas em todo o mundo.
Criada em 1997 e desenvolvida por um conselho internacional que reúne empresários, ONGs e organizações sindicais, a SA 8000 quer encorajar a participação de todos os setores da sociedade na melhoria das condições de trabalho e de vida no ambiente corporativo, eliminar o trabalho forçado e acabar com a exploração do trabalho infantil. Além de ser uma questão ética em si, garantir boas e dignas condições de trabalho tornou-se fundamental no atual mundo dos negócios. Por um lado, contribui para o sucesso num mercado cada vez mais competitivo e globalizado; por outro, faz parte da construção de uma sociedade mais justa e fraterna para todos.
Enfim, outras conquistas empresarias, como as normas ISO e qualidade ambiental, tornam-se um aspecto bastante expressivo e mostram o empenho empresarial em contribuir para uma sociedade com qualidade de vida melhor para todos.
6
- RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
A gestão ambiental e da responsabilidade social, para um desenvolvimento que seja sustentável econômica, social e ecologicamente, precisa contar com executivos e profissionais nas organizações, públicas e privadas, que incorporem tecnologias de produção inovadoras, regras de decisão estruturadas e demais conhecimentos sistêmicos (sistema) exigidos no contexto em que se inserem.
O desenvolvimento econômico e o meio ambiente estão intimamente ligados. Só é inteligente o uso de recursos naturais para o desenvolvimento caso haja parcimônia e responsabilidade no uso dos referidos recursos. Do contrário, a degradação e o caos serão inevitáveis. De acordo com o quadro 1, a ordem é a busca do desenvolvimento sustentável, que em três critérios fundamentais devem ser obedecidos simultaneamente: equidade social, prudência ecológica e eficiência econômica.
Quadro
1 – Desenvolvimento Sustentável – Tripé da sustentabilidade
empresarial
Fonte: www.copesul.com.br
Os novos tempos, conforme Tachizawa (2002), caracterizam-se por uma rígida postura dos clientes, voltada à expectativa de interagir com organizações que sejam éticas, com boa imagem institucional no mercado e que atuem de forma ecologicamente responsável.
A
melhoria das condições de vida, segundo Coelho & Dutra (2000),
passa obrigatoriamente por um conjunto de ações que transcende ao
importante item de preservação ambiental e se expande para a melhoria
das condições de trabalho, assistência médica e social, além de
incentivo às atividades culturais, artísticas, bem como à preservação,
reforma e manutenção de bens públicos e religiosos.
A
questão ambiental está se tornando cada vez mais matéria obrigatória
das agendas dos executivos. A internacionalização dos padrões de
qualidade ambiental descrito na série ISO 14000, a globalização dos
negócios, a conscientização crescente dos atuais consumidores e a
disseminação da educação ambiental nas escolas permitem antever que
a exigência futura que farão os consumidores em relação à preservação
do meio ambiente e à qualidade de vida deverá intensificar-se.
Neste
contexto Kraemer (2000) diz que as organizações deverão incorporar a
variável ambiental no aspecto de seus cenários e na tomada de decisão,
mantendo com isso uma postura responsável de respeito à questão
ambiental. Empresas experientes identificam resultados econômicos e
resultados estratégicos do engajamento da organização na causa
ambiental. Estes resultados não se viabilizam de imediato, há
necessidade de que sejam corretamente planejados e organizados todos os
passos para a interiorização da variável ambiental na organização
para que ela possa atingir o conceito de excelência ambiental, trazendo
com isso vantagem competitiva.
Na
informação sobre o meio ambiente, se deve incluir a Contabilidade,
porque, na atualidade, o meio ambiente é um fator de risco e de
competitividade de primeira ordem. A não inclusão dos custos e obrigações
ambientais distorcerá tanto a situação patrimonial como a situação
financeira e os resultados da empresa.
7
- CONTABILIDADE AMBIENTAL – RELATÓRIO PARA UM FUTURO SUSTENTÁVEL,
RESPONSÁVEL E TRANSPARENTE
A
preocupação mundial em torno do meio ambiente caminha para um consenso
em torno da adesão a um novo estilo de desenvolvimento que deve
combinar eficiência econômica com justiça social e prudência ecológica.
A combinação desses elementos somente será possível se houver um
esforço conjunto de todos com objetivo de atingir o bem-estar geral no
futuro.
Os
contadores têm um papel fundamental nesta perspectiva, uma vez que
depende desses profissionais elaborar um modelo adequado para esta
entidade, incentivar às empresas a implementarem gestões ambientais
que possam gerar dados apresentáveis contabilmente, nos balanços
sociais, além de criar sistemas e métodos de mensuração dos
elementos e de mostrar ao empresário as vantagens dessas ações.
Para
Sá (2001), as exigências sociais e ambientais, aquelas do mercado, a
luta imperialista, a velocidade extrema das comunicações, o progresso
espantoso no processo da informação, as aplicações científicas cada
vez mais ousadas em quase todos os ramos do saber humano, foram os
fatores que inspiraram as modificações conceituais, também em
Contabilidade.
Hoje,
a Contabilidade mede somente os elementos que possuem preço. Conforme
Gray (2003), a maioria desses elementos ambientais não carrega rótulo
de preço e pode, portanto, ser ignorado. Então, enquanto o
‘encaixe’ não é perfeito, há quase que uma certeza de que o
sucesso contábil e a degradação contábil andam juntas.
O
mesmo autor diz que a primeira tarefa da contabilidade ambiental é
compreender melhor este processo e os processos sociais relacionados. A
segunda é buscar formas através das quais a Contabilidade possa ser
ajustada dentro da atual ortodoxia, visando encorajar uma maior interação
social e ambiental benigna.
Diante
disto, a Contabilidade Ambiental é o processo que facilita as decisões
relativas à atuação ambiental da empresa a partir da seleção de
indicadores e análises de dados, da avaliação destas informações
com relação aos critérios de atuação ambiental, da comunicação, e
da revisão e melhora periódica de tais procedimentos.
As
inovações trazidas pela Contabilidade Ambiental estão associadas a
pelo menos três temas:
-
a definição do custo ambiental;
-
a forma de mensuração do passivo ambiental, com destaque para o
decorrente de ativos de vida longa, e;
-
a utilização intensiva de notas explicativas abrangentes e o uso de
indicadores de desempenho ambiental, padronizados no processo de
fornecimento de informações ao público.
Junto
a essas variáveis, se encontra ainda o respeito ao meio ambiente, cuja
incidência econômica, sócio-jurídica e cultural está fora de toda dúvida
e cujo impacto deve ser reconhecido na Contabilidade.
A
Contabilidade não vai resolver os problemas ambientais, mas face à sua
capacidade de fornecer informações, pode alertar os vários atores
sociais para a gravidade do problema vivenciado, ajudando desta forma na
procura de soluções.
Existem
três motivos básicos para a empresa adotar uma Contabilidade
Ambiental:
Razão
de gestão interna – Está
relacionada com uma ativa gestão ambiental e seu controle.
Exigências
legais – A
crescente exigência legal e normativa pode obrigar os diretores a
controlar mais seus riscos ambientais, sob pena de multas.
Demanda
dos partícipes –
A empresa está submetida cada vez mais a pressões internas e externas.
Essas demandas podem ser dos empregados, acionistas, administração pública,
clientes, bancos, investidores, organizações ecológicas, seguradoras
e comunidade local.
Convém especificamente saber por que a empresa quer um sistema de Contabilidade Ambiental. Em outras palavras, que resultados espera obter com isto. É importante conhecer quais são os objetivos.
-
Saber se a empresa cumpre ou não com a legislação ambiental vigente;
-
Ajudar a direção em seu processo de tomada de decisões e na fixação
de uma política e nos objetivos de gestão ambiental;
-
Comprovar a evolução da atuação ambiental da empresa através do
tempo e identificar as tendências que se observam;
-
Detectar as áreas da empresa que necessitam especial atenção (áreas
críticas) e os aspectos ambientais significativos;
-
No caso de empresas com uma política ambiental já estabelecida:
conhecer se tem cumprido com os objetivos ambientais fixados pela
companhia;
-
Identificar oportunidades para uma melhor gestão dos aspectos
ambientais;
-
Identificar oportunidades estratégicas: como a empresa pode obter
vantagens competitivas graças a melhoras concretas na gestão
ambiental: quais são as melhoras que dão valor à companhia.
-
Obter informação específica para fazer frente à solicitação dos
partícipes concretos.
Os partícipes (conforme quadro 2) podem ser: diretores, empregados, acionistas, comunidade local, administração pública, clientes, fornecedores, investidores, bancos e entidades financeiras, seguradoras, organizações ecológicas, universidades e centros de pesquisas e seus interesses estão descritos no quadro 3.
Quadro
2 – Partícipes envolvidos na responsabilidade social e ambiental
Fonte:
Fenech (2002)
Quadro
3 - Interesses específicos
de cada partícipe
PARTÍCIPE
|
PRINCIPAIS
INTERESSES
|
1
– Trabalhadores |
Garantia
de emprego. Salários. Orgulho e sentimento de dignidade. Saúde e
segurança no lugar no trabalho |
2
– Comunidade local |
Riscos
de saúde. Ruídos. Odores. Resíduos
expelidos no solo, água e ar. Conhecimento da atividade da
empresa. Riscos de acidente. |
3
– Clientes e fornecedores |
Qualidade
dos produtos. Preços. Segurança nos produtos. Garantia nos
produtos. |
4
– Administração pública |
Cumprimento
da legislação. Acidentes e denúncias. Consumo de recursos. Evidência
de que a empresa cumpre seus compromissos ambientais |
5
– Entidades financeiras, investidores e acionistas. |
Resultados
financeiros. Informações sobre responsabilidade ou obrigações
legais e respeito a terceiros. Custos ambientais e sua gestão.
Investidores ambientais. Vantagens comerciais relacionadas com a
gestão ambiental. Custo do não cumprimento legal. |
6
– Organizações ecológicas |
Informação
ambiental no âmbito local. Impacto nos ecossistemas. Impactos
ambientais do produto ou serviço. |
Fonte:
Fundació Fórum Ambiental (1999).